Parte I - Bases
Legais
Parte II -
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Parte III - Ciências
da Natureza, Matemática e suas Tecnologias
Parte IV - Ciências
Humanas e suas Tecnologias
A
reforma curricular e a organização do Ensino Médio. O currículo,
enquanto instrumentação da cidadania democrática, deve contemplar
conteúdos e estratégias de aprendizagem que capacitem o ser humano
para a realização de atividades nos três domínios da ação
humana: a vida em sociedade, a atividade produtiva e a experiência
subjetiva, visando à integração de homens e mulheres no tríplice
universo das relações políticas, do trabalho e da simbolização
subjetiva.
Nessa
perspectiva, incorporam-se como diretrizes gerais e orientadoras da
proposta curricular as quatro premissas apontadas pela UNESCO como
eixos estruturais da educação na sociedade contemporânea:
•
Aprender a conhecer
Considera-se a importância de uma educação geral, suficientemente
ampla, com possibilidade de aprofundamento em determinada área de
conhecimento. Prioriza-se o domínio dos próprios instrumentos do
conhecimento, considerado como meio e como fim.
Meio,
enquanto forma de compreender a complexidade do mundo, condição
necessária para viver dignamente, para desenvolver possibilidades
pessoais e profissionais, para se comunicar. Fim, porque seu
fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir.
O
aumento dos saberes que permitem compreender o mundo favorece o
desenvolvimento da curiosidade intelectual, estimula o senso crítico
e permite compreender o real, mediante a aquisição da autonomia na
capacidade de discernir.
Aprender a conhecer garante o aprender a aprender e constitui o
passaporte para a educação permanente, na medida em que fornece as
bases para continuar aprendendo ao longo da vida.
• Aprender a
fazer
O
desenvolvimento de habilidades e o estímulo ao surgimento de novas
aptidões tornam-se processos essenciais, na medida em que criam as
ondições necessárias para o enfrentamento das novas situações
que se colocam. Privilegiar a aplicação da teoria na prática e
enriquecer a vivência da ciência na tecnologia e destas no social
passa a ter uma significação especial no desenvolvimento da
sociedade contemporânea.
•
Aprender a viver
Trata-se
de aprender a viver juntos, desenvolvendo o conhecimento do outro e a
percepção das interdependências, de modo a permitir a realização
de projetos comuns ou a gestão inteligente dos conflitos
inevitáveis.
• Aprender a ser
A
educação deve estar comprometida com o desenvolvimento total da
pessoa. Aprender a ser supõe a preparação do indivíduo para
elaborar pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus
próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si mesmo,
frente às diferentes circunstâncias da vida. Supõe ainda exercitar
a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e imaginação,
para desenvolver os seus talentos e permanecer, tanto quanto
possível, dono do seu próprio destino.
Aprender a viver e aprender a ser decorrem, assim, das duas
aprendizagens anteriores – aprender a conhecer e aprender a fazer –
e devem constituir ações permanentes que visem à formação do
educando como pessoa e como cidadão.
A
partir desses princípios gerais, o currículo deve ser articulado em
torno de eixos básicos orientadores da seleção de conteúdos
significativos, tendo em vista as competências e habilidades que se
pretende desenvolver no Ensino Médio.
Um eixo
histórico-cultural dimensiona o valor histórico e social dos
conhecimentos, tendo em vista o contexto da sociedade em constante
mudança e submetendo o currículo a uma verdadeira prova de validade
e de relevância social. Um eixo epistemológico reconstrói os
procedimentos envolvidos nos processos de conhecimento, assegurando a
eficácia desses
processos
e a abertura para novos conhecimentos
• As três áreas
A
reforma curricular do Ensino Médio estabelece a divisão do
conhecimento escolar em áreas, uma vez que entende os conhecimentos
cada vez mais imbricados aos conhecedores, seja no campo
técnico-científico, seja no âmbito do cotidiano da vida social. A
organização em três áreas – Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias, Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e
Ciências Humanas e suas Tecnologias – tem como base a reunião
daqueles conhecimentos que compartilham objetos de estudo e,
portanto, mais facilmente se comunicam, criando condições para que
a prática escolar se desenvolva numa perspectiva de
interdisciplinaridade.
• Linguagens,
Códigos e suas Tecnologias : PORTUGUÊS, ARTE, INGLÊS, EDUCAÇÃO
FÍSICA.
A
linguagem é considerada aqui como capacidade humana de articular
significados coletivos em sistemas arbitrários de representação,
que são compartilhados e que variam de acordo com as necessidades e
experiências da vida em sociedade. A principal razão de qualquer
ato de linguagem é a produção de sentido.
Podemos, assim, falar em linguagens que se inter-relacionam nas
práticas sociais e na história, fazendo com que a circulação de
sentidos produza formas sensoriais e cognitivas diferenciadas. Isso
envolve a apropriação demonstrada pelo uso e pela compreensão de
sistemas simbólicos sustentados sobre diferentes suportes e de seus
instrumentos como instrumentos de organização cognitiva da
realidade e de sua comunicação. Envolve ainda o reconhecimento de
que as linguagens verbais, icônicas, corporais, sonoras e formais,
dentre
outras,
se estruturam de forma semelhante sobre um conjunto de elementos
(léxico) e de relações (regras) que são significativas: a
prioridade para a Língua Portuguesa, como língua materna geradora
de significação e integradora da organização do mundo e da
própria interioridade; o domínio de língua(s)
estrangeira(s)
como forma de ampliação de possibilidades de acesso a outras
pessoas e a outras culturas e informações; o uso da informática
como meio de informação, comunicação e resolução de problemas,
a ser utilizada no conjunto das atividades profissionais, lúdicas,
de aprendizagem e de gestão pessoal; as Artes, incluindo-se a
literatura, como expressão criadora e geradora de significação de
uma linguagem e do uso que se faz dos seus elementos 20
e de suas
regras em outras linguagens; as atividades físicas e desportivas
como domínio do corpo e como forma de expressão e comunicação.
Importa
ressaltar o entendimento de que as linguagens e os códigos são
dinâmicos e situados no espaço e no tempo, com as implicações de
caráter histórico, sociológico e antropológico que isso
representa.
É
relevante também considerar as relações com as práticas sociais e
produtivas e a inserção do aluno como cidadão em um mundo letrado
e simbólico. A produção contemporânea é essencialmente simbólica
e o convívio social requer o domínio das linguagens como
instrumentos de comunicação e negociação de sentidos.
No
mundo contemporâneo, marcado por um apelo informativo imediato, a
reflexão sobre a linguagem e seus sistemas, que se mostram
articulados por múltiplos códigos e sobre os processos e
procedimentos comunicativos, é, mais do que uma necessidade, uma
garantia de participação ativa na vida social, a cidadania
desejada.
• Ciências da
Natureza, Matemática e suas Tecnologias : MATEMÁTICA, FÍSICA,
QUÍMICA, BIOLOGIA.
A
aprendizagem das Ciências da Natureza, qualitativamente distinta
daquela realizada no Ensino Fundamental, deve contemplar formas de
apropriação e construção de sistemas de pensamento mais abstratos
e ressignificados, que as trate como processo cumulativo de saber e
de ruptura de consensos e pressupostos metodológicos. A aprendizagem
de concepções científicas atualizadas do mundo físico e natural e
o desenvolvimento de estratégias de trabalho centradas na solução
de problemas é finalidade da área, de forma a aproximar o educando
do trabalho de investigação científica e tecnológica, como
atividades institucionalizadas de produção de conhecimentos, bens e
serviços.
Os
estudos nessa área devem levar em conta que a Matemática é uma
linguagem que busca dar conta de aspectos do real e que é
instrumento formal de expressão e comunicação para diversas
ciências. É importante considerar que as ciências, assim como as
tecnologias, são construções humanas situadas historicamente e que
os objetos de estudo por elas construídos e os discursos por elas
elaborados não se confundem com o mundo físico e natural, embora
este seja referido nesses discursos. Importa ainda Compreender que,
apesar de o mundo ser o mesmo, os objetos de estudo são diferentes,
enquanto constructos do conhecimento gerado pelas ciências através
de leis próprias, as quais devem ser apropriadas e situadas em uma
gramática interna a cada ciência. E, ainda, cabe compreender os
princípios científicos presentes nas tecnologias, associá-las aos
problemas que se propõe solucionar e resolver os problemas de forma
contextualizada, aplicando aqueles princípios científicos a
situações reais ou simuladas.
Enfim,
a aprendizagem na área de Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias indicam a compreensão e a utilização dos conhecimentos
científicos, para explicar o funcionamento do mundo, bem como
planejar, executar e avaliar as ações de intervenção na
realidade.
• Ciências
Humanas e suas Tecnologias : HISTÓRIA, GEOGRAFIA, SOCIOLOGIA,
FILOSOFIA.
Nesta
área, que engloba também a Filosofia, deve-se desenvolver a
tradução do conhecimento das Ciências Humanas em consciências
críticas e criativas, capazes de gerar respostas adequadas a
problemas atuais e a situações novas. Dentre estes, destacam-se a
extensão da cidadania, que implica o conhecimento, o uso e a
produção histórica dos direitos e deveres do cidadão e o
desenvolvimento da consciência cívica e social, que implica a
consideração do outro em cada decisão e atitude de natureza
pública ou particular.
A
aprendizagem nesta área deve desenvolver competências e habilidades
para que o aluno entenda a sociedade em que vive como uma construção
humana, que se reconstrói constantemente ao longo de gerações, num
processo contínuo e dotado de historicidade; para que compreenda o
espaço ocupado pelo homem, enquanto espaço construído e consumido;
para que compreenda os processos de sociabilidade humana em âmbito
coletivo, efinindo espaços públicos e refletindo-se no âmbito da
constituição das individualidades; para que construa a si próprio
como um agente social que intervém na sociedade; para que avalie o
sentido dos processos sociais que orientam o constante fluxo social,
bem como o sentido de sua intervenção nesse processo; para que
avalie o impacto das tecnologias no desenvolvimento e na estruturação
das sociedades; e para que se aproprie das tecnologias
produzidas
ou utilizadas pelos conhecimentos da área.
•
Interdisciplinaridade e Contextualização
Através
da organização curricular por áreas e da compreensão da concepção
transdisciplinar
e matricial, que articula as linguagens, a Filosofia, as ciências
naturais e humanas e as tecnologias, pretendemos contribuir para que,
radativamente, se vá superando o tratamento estanque,
compartimentalizado, que caracteriza o conhecimento escolar.
A
tendência atual, em todos os níveis de ensino, é analisar a
realidade segmentada, sem desenvolver a compreensão dos múltiplos
conhecimentos que se interpenetram e conformam determinados
fenômenos. Para essa visão segmentada contribui o enfoque meramente
disciplinar que, na nova proposta de reforma curricular, pretendemos
superado pela perspectiva interdisciplinar e pela contextualização
dos conhecimentos.
Na
perspectiva escolar, a interdisciplinaridade não tem a pretensão de
criar novas disciplinas ou saberes, mas de utilizar os conhecimentos
de várias disciplinas para resolver um problema concreto ou
compreender um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista.
Em suma, a interdisciplinaridade tem uma função instrumental.
Trata-se de recorrer a um saber diretamente útil e utilizável para
responder às questões e aos problemas sociais contemporâneos.
Na
proposta de reforma curricular do Ensino Médio, a
interdisciplinaridade deve ser compreendida a partir de uma abordagem
relacional, em que se propõe que, por meio da prática escolar,
sejam estabelecidas interconexões e passagens entre os conhecimentos
através de relações de complementaridade, convergência ou
divergência.